A trajetória de Rosana Mendes Campos é comum entre as mulheres artistas. Em
determinado ponto da carreira, fazem a opção pelos filhos e a família. Escolhem
lúcida e corretamente, mas não abandonam a arte, deixando-a em latência. Com o
passar do tempo, volta o anseio e o tempo reaparece, e, então, retomam com
intensidade os estudos e a produção artística.
Rosana fez esse caminho e planejou sua volta com o rigor que a
caracteriza. Optou pelo aprimoramento de suas habilidades, recomeçando pelo
treinamento sob supervisão. De início, com o professor Alan Fontes e, mais
adiante, com a grande mestra Mariza Trancoso, com quem teve enorme
identificação e a ajudou a encontrar seu verdadeiro espaço na Arte.
No momento, as experiências de vida estão incorporadas, e a artista se mostra
amadurecida, ciente da importância de sua decisão, buscando deixar registrada,
de modo significativo, sua passagem pela história da arte brasileira.
Podemos nominar Rosana como pintora figurativa e colocá-la, pela
linguagem utilizada, no cenário da arte contemporânea. Recorro ao pensamento da
própria artista: “Meu trabalho passou a ser muito autobiográfico, eu diria
que até confessional. Hoje falo de feminilidade, de sexualidade feminina, da
dor, principalmente da dor de se ser mulher, da euforia, êxtase, e fantasias e
assim passei a utilizar-me de uma linguagem simbólica...” E continua: “O processo
é altamente autodestruidor, porque exige que eu me exponha com as minhas
falhas, as minhas loucuras, o meu feio”.
Por meio de imagens
construídas habilidosamente, com tintas acrílicas distribuídas em telas de
grandes dimensões, Rosana cria seu mundo onírico, habitado por belos corpos femininos talhados com perfeição, alguns
flutuantes, outros ao lado de animais, sugerindo doação, liberdade, sexualidade
livre, sem beirar o banal, ou imoral. Sua
arte é descritiva, sendo necessário colocar-se diante de suas pinturas para
compreender as mensagens expressas um mundo
imaginário, mas que retrata sua necessidade de transmitir emoções pessoais,
positivas ou não. Dentro desses parâmetros, é possível incluí-la ao lado de
Louise Bourgeois e Tracey Emin, especialistas no que se estabeleceu
chamar arte
confessional, em que a mulher conta a
própria história em sua obra. Ressalte-se que não há apropriação, ou citação das duas grandes artistas. Seu trabalho é
único, pessoal.
Em suas telas, Rosana cria uma narração e
deixa suas mensagens, permitindo ao espectador reflexões sobre relações
humanas, barreiras sociais, moralismo, sexo, amor, ódio, beleza, felicidade,
tragédia, vida e morte. Não se permanece indiferente ao seu trabalho.
Marcio de Oliveira Fonseca
editor do blog http://arteseanp.blogspot.com
Rio de Janeiro, março de 2013.
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